20081004

Não se toca, verdadeiramente, a flor
o que se passa, de passagem, é a cor
o que se passa é o desejo da cor
um vento delicado nos cabelos
um vento que vem dos olhos
de alguém que passa
que vira a cabeça e vai
levando nos olhos
um pouco daquela cor
é um momento, um instante
perfumado de eternidade
mas a eternidade é somente
esse começo
que dura como um fantasma
intocável como a flor
durante todo o tempo
em que o amor amadurece e morre
doce como se amargo fosse
e quando o fruto cai da árvore
já não se encontra nenhum vento
nos olhos.



Se os dias tivessem noites
e as noites pudessem dançar ao vento
como folhas de árvores distraídas
folhas tecidas com o calor do sol só
com a trama da noite, com abraços
que escondo pra você em meus braços
enquanto você dorme em meus pelos
e o travesseiro inteiro sonha
com a sedosa fronha dos teus cabelos.



Me espanta, quando me espanta
a ductibilidade do teu amor
serena serra com vaquinhas pastando
cadeias montanhosas aguardando
nuvens negras
e essa casa, essa pequena casa
branca no meio do nada
me espanta que estejas abandonada.



Guarda como o tempo passa
caminha nas águas do rio
fluente vento que se oculta
entre uma e outra ponte
na sombra onde os casais se beijam
e se prometem amar pra sempre
cada vez menos esvoaçantes
cada vez mais desesperados
porque o amor acaba
muito antes que acabe
a vontade de amar.


Poemas incluídos no livro
"O amor que resvala"
de Fernando Zanetti

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