20091121

CECILIA MEIRELES

Escreverás meu nome com todas as letras, 
Com todas as datas 
- e não serei eu. 
  
Repetirás o que me ouviste, 
O que leste de mim, e mostrarás meu retrato 
- e nada disso serei eu. 
  
(...) 
  
Somos uma difícil unidade 
De muitos instantes mínimos 
- isso seria eu. 
  
Mil fragmentos somos, em jogo misterioso, 
Aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente 
- Como me poderão encontrar? 
  
Novos e antigos todos os dias, 
Transparentes e opacos, segundo o giro da luz 
- nós mesmos nos  procuramos. 
  
E por entre as circunstâncias fluímos, 
Leves e livres como a cascata pelas pedras.           
- Que metal nos poderia prender?

Cecilia Meireles

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