Os Três Ensaios ressalta os destinos pulsionais do recalque e da sublimação encaminhando o sujeito respectivamente na direção da neurose ou da integração social. Ou seja, se a demanda sexual se faz insuportável para o aparelho psíquico, se a tensão de diferenciação atinge níveis inassimiláveis, instala-se a neurose e o resultado é uma forma de paralisia no jogo de diferenciação entre sexualidade e psiquismo, onde um mesmo nível de tensão fica se reproduzindo na dimensão do sintoma e, de alguma maneira, interfere em toda e qualquer manifestação daquela subjetividade. Por outro lado se o jogo prossegue, se a sublimação se impõe, o resultado se dá como um enriquecimento da convivência social e a sexualidade enquanto função vai encontrar o caminho da norma, ou seja, vai se integrar à experiência do social e o psiquismo pode atuar de forma a não estar submetido às urgências da exigência pulsional.
Escutemos o que nos diz Baudrillard a respeito de nossa realidade contemporânea: “Se fosse caracterizar o atual estado de coisas, eu diria que é o da pós-orgia. A orgia é o momento explosivo da modernidade, o da liberação em todos os domínios. Liberação política, liberação sexual, liberação das forças produtivas, das forças destrutivas liberação da mulher, da criança, das pulsações inconscientes, liberação da arte ... orgia de real, de racional, de sexual ... Hoje tudo está liberado e
encontramo-nos coletivamente diante da pergunta crucial: o que fazer após a orgia? Só podemos simular a orgia e a liberação, fingir que prosseguimos acelerando ... Isso é o estado de simulação, aquela em que só podemos repetir todas as cenas porque elas já aconteceram ... e já que não podemos ter a esperança de realizá-las, só nos resta hiper-realizá-las numa simulação indefinida ... no fundo a revolução já aconteceu em toda parte, mas não do modo que se esperava. Em toda parte o que foi liberado o foi para passar à pura circulação, para entrar em órbita ... as coisas liberadas são fadadas à comutação incessante e portanto à indeterminação crescente e ao princípio da incerteza ... Esmaece então de certa forma em todos os domínios a grande aventura da sexualidade, dos seres sexuados --- em proveito do estádio anterior (?) dos seres imortais e assexuados, reproduzindo-se como os protozoários, por simples divisão do Mesmo e declinação do código. Os seres tecnológicos atuais, as máquinas, os clones, as próteses, todos eles tendem para esse tipo de reprodução e, lentamente, induzem o mesmo processo nos seres humanos e sexuados ... Na época da liberação sexual, a palavra de ordem foi “o máximo de sexualidade com o mínimo de reprodução. Hoje o sonho de uma sociedade clônica seria o inverso: o máximo de reprodução com o mínimo possível de sexo. Outrora o corpo foi a metáfora da alma; depois foi a metáfora do sexo; hoje já não é mais metáfora de coisa nenhuma. É o lugar da metástase, do encadeamento maquínico de todos os seus processos, de uma programação infinita sem organização simbólica, sem objetivo transcendente, na pura promiscuidade consigo mesmo, que é também a das redes e dos circuitos integrados”]. (Baudrillard 1990, p 9 a 13)
Esse quadro pintado pelo pensador francês nos dá a pensar: que relação está existindo entre psiquismo e sexualidade?
2 comentários:
Olá, tás boa?
Já te respondi lá no meu canto...bjs.
blz
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